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sexta-feira, 20 de março de 2009

Arte do Cotidiano. (descrição em forma de conto)

Tudo começou, acho, quando nasci. Pela familia que escolhi, no pais e cidade que cheguei.
Sempre me interessei pelas ações do dia a dia, gosto de cozinhar, de varrer, lavar o quintal... Adorava ficar perto da minha vó quando ela costurava, e que na maioria das vezes era à mão: cerzia, fazia bainhas, pregava botôes...
Ah! E cuidava das plantas, hum! isso era muito bom: regar, revolver a terra, arrumar todos aqueles vazinhos com as mudas...

                             (Lygia minha mãe preparando vasinhos)
Também era uma glória ajudar minha mãe na arrumação da casa, ela estava sempre cantando e com o rádio ligado: limpava poltronas, sacudia cortinas, e varria, varria, varria. 
(Luiza minha neta na cozinha da Tia Lulu)
Em nossa casa do Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio havia uma copa que papai tinha mandado reformar e que tinha se transformado num autêntico atelier de cozinha, alí dizia minha mãe, era seu reino, ela trabalhava ali fazendo de tudo principalmente macarronadas, bacalhau a Gomes de Sá, bolos, tortas, vitaminas coloridas que faziam os copos de vidro transparente ficaren laranjas claros e escuros, verdes de todos os tons, côr de beterraba, dependendo dos legumes, folhas e frutas que ela misturava na sua centrífuga, naquele tempo uma novidade dos eletrodomésticos.


                      Fazenda Aliança 
                     (foto tirada do site Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense)

                                                                            (eu no telhado da Caimbé)
Também os tempos de férias na Fazenda Aliança... Caminhar sozinha escutando o silêncio da natureza cheio de chiados e pios, mugidos e zumbidos... Ir à horta colher cenouras com a Tia Dedé, juntar cascas e restos de comida para jogar pros porcos, ir cedinho ao curral ver tirar o leite, ficar alí em silêncio sentindo o respirar da vida simples, os bezerros mamando, os peões nas suas conversas                   monossilábicas, os chamados a cada vaca quando chegava a vez de ser ordenhada. O leite quentinho na caneca... 

O som suave do ruminar: “mastiga, mastiga, engole e volta”; eu ficava horas e horas olhando e cantando uma musiquinha dentro de mim que tinha essa letra: “mastiga, mastiga, engole e volta”...  Era um ritmo mântrico que me fazia sair do mundo programado, dos chamados da Tia, da hora de tomar café, de almoçar, ou de brincar.  



(primos na varanda de Jacarepaguá)

A vida e o crescimento ia se dando natural e prazeirosamente, e a gente ia descubrindo coisas que podiam parecer coisas de nada e sem importancia, para os adultos, brincadeiras de crianças... mas que hoje, encontro com elas dentro de mim, fazendo parte do meu mundo e dando cor e qualidade as minhas ações e a minha forma de estar no mundo.


                                                                                        Regina Neves.

8 comentários:

  1. da uma vontade de ser de outra época... Uns 30 anos antes

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  2. Oi Regina, lindo o seu relato... parece que nele também encontro alguma coisa muito importante dentro de mim...Grata, Lila

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  3. Que bom Lila. A idéia é mesmo compartilhar e nos reconhecer uns nos outros. Abraço.

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  4. Dios mio nunca conteste ese mensaje ahora que aca estoy en cuarentena la veo perdon mi amiga pero antes tarde que nunca verdad? Como estas?

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  5. Lindo relato, Regina!
    Sincero, espontâneo e que nos arrebata!
    Beijos. Saudades!

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